Tratamento da Obesidade
A obesidade é uma doença crônica, associada à significativa redução da qualidade de vida e a várias complicações, como apneia do sono, diabetes mellitus, hipertensão arterial, doenças coronarianas, cálculos biliares, elevação do colesterol, doenças articulares degenerativas e alguns cânceres. Nas últimas décadas, a obesidade tem se tornado um dos problemas mais graves de saúde pública, comprometendo tanto países desenvolvidos quanto aqueles em processo de desenvolvimento. O tratamento da obesidade ainda permanece como um desafio para os profissionais envolvidos no cuidado de tais pacientes, mas, quando bem sucedido, resulta em melhora substancial da qualidade de vida, na redução das doenças associadas e no prolongamento da expectativa de vida.
A primeira conduta para tratamento da obesidade deve consistir na combinação de dieta com restrição calórica, de atividade física e de modificação do comportamento. Para os pacientes que tentaram seriamente, mas que não conseguiram atingir uma perda de peso de 5% a 10% em 3 a 6 meses, o tratamento medicamentoso está indicado. Infelizmente, o tratamento clínico é bem sucedido em poucos pacientes. A realização de cirurgia bariátrica deve se restringir aos pacientes extremamente obesos (IMC>40 kg/m2), ou com IMC>35 kg/m2 associado a doenças relacionadas à obesidade, mas apresenta um percentual significativo de complicações e de mortalidade. Isso levou ao desenvolvimento de procedimentos minimamente invasivos para o tratamento da obesidade, como o balão intragástrico. O balão é uma alternativa terapêutica atraente principalmente para um grupo intermediário de pacientes que não respondem ao tratamento medicamentoso e que não são candidatos à cirurgia bariátrica.
O que é o balão intragástrico?
É um dispositivo para tratamento temporário da obesidade, que consiste em um balão de silicone flexível posicionado dentro do estômago por endoscopia, com o objetivo de provocar a sensação de saciedade precoce.
Para quais indivíduos está indicada a colocação de balão intragástrico?
- Pacientes com obesidade acentuada (IMC*>35 associado a comorbidades ou IMC>40 sem condições clínicas para serem submetidos a cirurgia bariátrica ou que não aceitam a indicação cirúrgica).
- Pacientes com sobrepeso (IMC>27) e obesos (IMC 30-39) que apresentam riscos significativos a sua saúde relacionados à obesidade e que não conseguiram atingir ou manter perda de peso com um programa supervisionado de emagrecimento.
* Cálculo do IMC: razão entre o peso (kg) e a altura (m) elevada ao quadrado.
Quais são as contraindicações para colocação de balão intragástrico?
- Pacientes com IMC<27.
- Doença inflamatória do trato gastrointestinal, incluindo esofagite intensa, úlcera gástrica, úlcera duodenal, câncer ou doença de Crohn. Esofagite e úlceras devem ser tratadas antes da colocação do balão.
- Condições de risco para hemorragia digestiva alta, como mal-formações vasculares, varizes de esôfago ou estômago.
- Hérnia de hiato volumosa.
- Anormalidade estrutural no esôfago ou na faringe, como estenose ou divertículo.
- Qualquer condição médica que pode aumentar o risco de uma endoscopia eletiva.
- Desordens psiquiátricas.
- Cirurgia esofágica, gástrica ou intestinal prévia.
- Dependência de álcool ou de drogas.
- Recusa em participar de um programa de mudança de comportamento e de hábitos alimentares, supervisionado por nutricionistas, preparadores físicos, psicólogos e médicos.
- Distúrbios da coagulação ou uso de medicamentos que modificam a coagulação ou causam irritação gástrica, como aspirina, anti-inflamatórios, antiagregantes plaquetários ou anticoagulantes, não sujeitos a supervisão clínica.
- Gravidez ou aleitamento.
Como é preparação para colocação do balão intragástrico?
Você deverá ter se consultado com os profissionais envolvidos no programa de emagrecimento, que são: gastroenterologista, endocrinologista, psicólogo e nutricionista. As consultas têm como objetivo a sua avaliação previamente à colocação do balão, com orientação individualizada e planejamento dos encontros subsequentes. Devem ter sido solicitados exames laboratoriais e endoscopia digestiva alta para descartar doenças que contraindiquem o procedimento. O balão intragástrico é colocado somente após liberação do paciente por todos os profissionais citados. Também deve ser realizada avaliação cardiológica para definição do risco cirúrgico, necessário para se submeter a anestesia.
Como é colocado o balão intragástrico?
Inicialmente, você será sedado ou anestesiado, a critério do endoscopista, com monitorização cardíaca e oximetria. Após a realização de uma endoscopia digestiva alta, o aparelho será retirado e o balão vazio, acoplado a um cateter de inserção, será introduzido pela boca até o estômago. O balão será preenchido com soro fisiológico a 0,9% e corante azul de metileno até um volume de 400 ml a 700 ml sob visualização endoscópica. A válvula do balão será fechada e o cateter de inserção, removido. Finalmente, antes da retirada do endoscópio, o balão será examinado para descartar vazamento.
O que acontece depois da colocação do balão?
Você será acompanhado e orientado pelos profissionais envolvidos no programa de emagrecimento e a frequência dos encontros será determinada por eles antes do procedimento de forma individualizada. Existe a opção de balão com 6 meses de permanência no estômago e outra opção que pode permanecer por um ano e permite ajustes de volume durante o tratamento. Poucos pacientes não toleram o tratamento, com náuseas, vômitos, desconforto abdominal e outros sintomas, sem melhora apesar do uso de medicamentos, sendo necessária a retirada precoce do balão.
Como é retirado o balão intragástrico?
Você será anestesiado e devidamente monitorado por um anestesista, que permanecerá ao seu lado durante todo o procedimento, com a colocação de um tubo para proteger os seus pulmões de aspiração de conteúdo do estômago. Depois o endoscópio será introduzido no seu estômago. Após o posicionamento adequado do endoscópio, o balão será perfurado por uma agulha e totalmente esvaziado. O balão será, então, capturado por uma pinça apropriada e retirado lenta e cuidadosamente junto com o endoscópio.
Quais são as complicações possíveis do tratamento com balão intragástrico?
Embora complicações possam acontecer, elas são menos frequentes quando o procedimento é realizado por médicos especialmente treinados e experientes. Existem riscos de complicações relacionadas, tanto ao processo de colocação e retirada do balão, quanto à própria presença do dispositivo. Os procedimentos serão realizados com equipamento adequado e toda a segurança necessária para contornar eventuais complicações, que são:
- Reação adversa à sedação profunda ou à anestesia.
- Aspiração do conteúdo gástrico para dentro dos pulmões.
- Ferida ou irritação da garganta.
- Lesão do trato digestivo alto durante a colocação ou retirada do balão, com sangramento ou perfuração.
- Desconforto gástrico, náuseas e vômitos logo após a colocação do balão, enquanto o sistema digestivo se adapta à sua presença.
- Náuseas e vômitos persistentes, que podem ser causados pela irritação direta do revestimento gástrico ou pelo bloqueio da saída do estômago pelo balão. Pode ser necessária a retirada precoce do balão nesses casos.
- Sensação de peso no abdome.
- Dor abdominal ou lombar
- Vazamento de líquido do balão, com observação de urina e/ou fezes de cor azulada devido à presença do corante azul de metileno.
- Obstrução intestinal. O esvaziamento espontâneo do balão pode levar a sua migração pelo intestino e eliminação nas fezes. Entretanto, caso haja um estreitamento do intestino, como pode ocorrer após cirurgia abdominal ou formação de aderências, o balão pode não passar através do estreitamento, levando ao quadro de obstrução intestinal. Pode ser necessária cirurgia para sua retirada.
- Refluxo gastroesofágico.
- Obstrução de esôfago.
- Crescimento bacteriano dentro do balão. Caso haja ruptura do balão, pode ocorrer diarréia, cólicas e febre.
- Ulceração da mucosa gástrica por contato com a superfície do balão.
- Perda de peso insuficiente.
- Problemas de saúde decorrentes da perda excessiva de peso.
Informações importantes:
- O sucesso do tratamento depende principalmente da sua força de vontade em mudar o seu estilo de vida, com adesão à dieta prescrita e à prática de exercícios físicos supervisionados. O balão funciona como um estímulo para essa mudança, produzindo saciedade precoce.
- Caso você observe urina e/ou fezes de cor azulada, deve informar imediatamente ao médico endoscopista, pois o balão deve ter esvaziado. Outros sinais de esvaziamento espontâneo do balão são: ganho de peso, volta do apetite ou dores abdominais. A sua retirada por endoscopia deve ser imediata para evitar migração.
Importante:
As informações acima consistem em esclarecimentos gerais e não podem ser usadas para definir a conduta em casos específicos. É muito importante consultar o médico sobre suas condições particulares.